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Liverpool - A inércia perante o infortúnio

  • Foto do escritor: Mauro Salgueiro Delca
    Mauro Salgueiro Delca
  • 18 de fev. de 2021
  • 4 min de leitura


26 de junho de 2020: após 30 anos, o Liverpool F.C. voltou a sagrar-se campeão inglês. Foi à 31ª jornada, sete jogos faltavam, quando a confirmação chegou com a vitória do Chelsea F.C. sobre o Manchester City, os rivais do título. Nem tudo foi perfeito, uma vez que a pandemia do Covid-19 não permitiu a celebração que, ao fim de três décadas e na sequência de uma campanha quase perfeita, os ‘Reds’ mereciam. Ainda assim, hoje, à 24ª jornada da Premier League 2020/21, o Liverpool está praticamente fora da corrida pela revalidação do título. Algo está mal.


Aliás, Jürgen Klopp foi o próprio a assumir a derrota na longa maratona que é o campeonato inglês. A 13 de fevereiro, o encontro com o Leicester City deixou o Liverpool no 6º lugar a 16 pontos do Manchester City. E na respectiva conferência de imprensa, aquando questionado se o título está agora fora de alcance, o técnico alemão, que tem vivido dias difíceis a nível pessoal, soltou um arrepiante «Sim... não acredito que digo isto, mas sim.»

E não houve certamente um adepto do Liverpool que não partilhasse o desconsolo de Klopp. Ainda que seja de louvar a cabeça fria do treinador perante a realidade, admitindo que algo está errado. Outros treinadores, perante momentos semelhantes, não o fazem com a mesma clareza.


Mas o que está mal, ao certo? Porque parece algo muito distante, mas a verdade é que os vermelhos de Liverpool terminaram o ano civil 2020 como líderes do campeonato. E nessa altura, a má forma da equipa estava só a começar. Desde aí, no ano 2021, a sua forma na Premier League assemelha-se à perda do voo de uma ave em pleno ar. Em oito partidas, somam-se apenas duas vitórias (uma frente a um Tottenham extremamente passivo) e um empate. As contas são fáceis de fazer: cinco derrotas completam as oito.

É certo que Virgil Van Dijk está de fora da equipa e vai perder o resto da época, mas já o está desde o dérbi de Merseyside (com o Everton) em meados de outubro e os dois meses que se seguiram correspondem à melhor forma do Liverpool na temporada. É também certo que outras lesões mais ou menos graves fustigaram os ‘Reds’, deixando a sua defesa fragilizada e a nuvem do Covid-19 também pairou sobre o clube.


Ainda assim, o que é realmente gritante é a passividade perante a maré de azar pouco controlável que assola o Liverpool. O futebol praticado está longe de ser semelhante ao domínio das épocas 2018/19 e 2019/20 e a má forma arrasta uma onda de problemas de confiança que transparecem claramente para dentro do campo. Alisson Becker não é o muro que nos habituou a ser, o patrão da defesa é um médio centro (Jordan Henderson), Curtis Jones, miúdo de valor, foi lançado forçosamente aos leões, tornando-se regular aposta no meio-campo titular e os poucos reforços não aparecem.

Repare-se, há um par de linhas foi referido o facto de ser Jordan Henderson o patrão da defesa dos ‘Reds’. Já o era no início de janeiro (juntamente com Fabinho, que voltou a lesionar-se, e também não tem rotinas de defesa central), perante as lesões de Van Dijk, Jöel Matip e Joe Gomez. E com uma janela de transferências aberta até ao fim do mês... vieram Ozan Kabak (20 anos, ex-Schalke 04) e Ben Davies (25 anos, ex-Preston North End) reforçar o centro da defesa, completado pelo verdinho Rhys Williams e por Nathaniel Phillips. Nenhum destes quatro tem capacidade, de momento, para ser titular no actual campeão inglês. Kabak, o formador da dupla com Henderson era titular no Schalke, último classificado da Bundesliga, e parece-me apenas uma boa aposta de futuro... infelizmente, chegou por empréstimo apenas. Os restantes continuam não sendo opção num onze com um médio centro a defesa central. Há uns dias, Dayot Upamecano, central do RB Leipzig, assinou pelo Bayern de Munique por 42,5 milhões de euros. Já Kristoffer Ajer, do Celtic, tem valor de mercado de apenas 4 milhões de euros.


De resto, o problema da pouca recorrência ao mercado afecta o Liverpool gravemente. Não se vende, é certo. Mohammed Salah é apontado ao Real Madrid e ao PSG desde 2018 e ainda não saiu. Mas os reforços que chegam ao clube também não se mostram de valor. Desde a conquista da Champions League em 2019, as únicas contratações sonantes foram a de Diogo Jota (que se lesionou pouco depois de se mostrar em boa forma) e a de Thiago Alcântara, possivelmente o melhor médio do mundo em 2019/20 e também o grande flop da temporada 2020/21.

A equipa continua a não ter profundidade de plantel que se veja. Andrew Robertson e Trent Alexander Arnold são praticamente forçados a jogar uma época inteira, uma vez que nem Kostantinos Tsimikas (24 anos), nem Neco Williams (19) parecem mais que adequados jogadores para uma equipa da metade inferior da tabela. O meio-campo, além de curto tem outros problemas: propenso a lesões em elementos como Naby Keita e Alex Oxlade-Chamberlain. A James Milner vai faltando as pernas e Curtis Jones e Ben Woodburn beneficiariam de empréstimo. Enquanto isso, a cláusula de Dominik Szoboszlai fixava-se nos 25 milhões de euros antes da sua transferência para o RB Leipzig em janeiro.

O ataque, composto por Sadio Mané, Mohammed Salah e Roberto Firmino, também sem o brilhantismo de outros tempos, mantém-se como indiscutível. Com Diogo Jota lesionado e Xherdan Shaqiri e Divock Origi como outras opções, era difícil ser de outra forma. Quando se mexe no trio, a quebra na qualidade é abrupta. Também neste sector, o Celtic tem disponível uma opção barata e com provas dadas: Odsonne Edouard, com valor de 15 milhões de euros, leva já 15 golos e quatro assistências nesta temporada. Com 23 anos apenas, poderia oferecer uma excelente alternativa a ser lançada a partir do banco dos ‘Reds’.


O que é certo é que a época vai seguindo. O tempo não para e os problemas a nível interno persistem. Na Champions League, o Liverpool conseguiu bater o RB Leipzig na Alemanha por 0-2 na primeira mão, aproveitando o imenso espaço por trás das linhas subidas dos alemães num jogo dividido. As portas estão abertas para a passagem aos quartos de final e a verdade é que só na Europa a época dos ‘Reds’ pode ser salva.

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