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Mundial de Clubes - A previsão anual de uma vitória europeia

  • Foto do escritor: Mauro Salgueiro Delca
    Mauro Salgueiro Delca
  • 11 de fev. de 2021
  • 4 min de leitura

Pelas 18h de hoje - 11 de fevereiro, em Al Rayyan, no Qatar, Bayern de Munique e Tigres subirão ao relvado do Education City Stadion, na disputa pelo título do FIFA World Clubs Cup (Mundial de Clubes) Isto, oficialmente. Em tom mais pessoal, o que acontecerá é: o Bayern de Munique vai conquistar o seu sexto título nesta época, porque nenhuma equipa das presentes na competição teria sequer hipótese de o negar.

E digo “o Bayern de Munique”, porque, efectivamente, foi o Bayern que venceu a UEFA Champions League em 2019/20. Tivesse sido o Paris Saint-Germain, o Liverpool, o Manchester City, etc., o texto seria o mesmo. Não existe dúvida de que o futebol europeu está num patamar que ofusca completamente o praticado nos restantes continentes. E o Mundial de Clubes só o comprova, ano após ano. Em 15 edições, contam-se 12 vitórias europeias e três sul-americanas. A última das quais em 2012. Hoje, será a 8ª vitória europeia consecutiva, e o provável é que se chegue às dez.


Não é falsa noção de superioridade, muito menos arrogância da minha parte afirmá-lo. Até gostaria que fosse, uma vez que não escondo que gostaria de, anualmente, me sentar no sofá à espera de raros jogos intercontinentais que primassem na qualidade e competitividade. Porém, por motivos principalmente económicos, não existe nenhum continente capaz de ombrear de igual para igual com a Europa em termos futebolísticos.

Talvez não existindo uma multiplicidade de restrições nas inscrições da Major League Soccer, a liga norte-americana (Canadá + Estados Unidos da América), isso fosse diferente. Uma vez que a liga ainda controla o número de estrangeiros por equipa, bem como os seus tectos salariais. Mas de hipóteses não se escreve a história e a verdade é que esse tipo de regulamentos aumenta em muito a competição dentro da própria liga.


A realidade é outra e comprovada, ainda que muita gente, sobretudo na América do Sul e com o Brasil em primeiro plano, a conteste. Ainda há dias, na sequência da derrota do Palmeiras de Abel Ferreira para o Tigres, a onda de revolta se instalou. Não pela derrota, mas porque Juca Kfouri, colunista da Folha de São Paulo escreveu: «O que se exige de time brasileiro no Mundial é disputar a decisão. Ao chegar nela, a responsabilidade passa a ser do time europeu e só não pode haver goleada como o Barcelona impôs ao Santos em 2011.»

Não há mentira nenhuma nessa afirmação. Ainda pode ser dado o argumento de que o Flamengo levou o Liverpool até ao prolongamento em 2019. Porém, a tese cai por terra caso se conheça a realidade das duas equipas à data: os campeões europeus apresentaram-se no Mundial em ritmo de amigável - contrastando com o futebol dominante que os caraterizava em Inglaterra e a nível europeu - para enfrentar a melhor equipa sul-americana do século XXI. E ganhou, sem precisar de mais.

Compreende-se que seja complicado aceitar tal facto, mas nem é só em clubes que as diferenças se notam. A diferença da qualidade das ligas, ainda que indirectamente espelhada no Mundial de Clubes, é também demonstrada pelo sonho do craque não-europeu em jogar na Europa e disputar a Champions League. Mais que isso, está à vista quando o dito craque, que o era inegavelmente noutras ligas, não se afirma na Europa. Casos existem ainda de jogadores que, tendo sido recrutados ainda jovem por tubarões europeu, mas sem vingar em idade adulta, optem por se tornar craques noutras ligas menos exigentes. Pensamos logo em Giovanni dos Santos, não é?

Para além do mais, mesmo a nível de selecções, as diferenças já são cada vez mais notadas. O Mundial é conquistado por selecções europeias desde 2006 (quatro consecutivos). É certo que a Argentina disputou uma final, em 2014, mas a fiar-se mais na garra e na qualidade individual que na coesão. Já o melhor Brasil desde 2002 - olhando à classificação na prova - ficou-se pelas semi-finais, também em 2014 e foi cilindrado pela Alemanha no mítico 7-1.


Mas, voltemos a debruçar-nos no Mundial de Clubes: trata-se de uma competição, organizada pela FIFA, que expõe de forma clara as diferenças futebolísticas entre continentes em troca da concretização de interesses comerciais. Para as equipas não-europeias, é uma oportunidade de jogarem contra o campeão europeu, com a chance de se tornar campeã mundial a apresentar-se como muito remota. A garra entra em campo e o orgulho também. E então, voltando a citar Juca Kfouri: «(...) a responsabilidade passa a ser do time europeu.»

Contra este Bayern, especificamente, não auguro qualquer chance ao Tigres, nem que André-Pierre Gignac tenha o jogo da sua vida. O máximo que posso dizer é: se o River Plate - de longe a melhor equipa fora do continente europeu - tivesse conquistado a Copa Libertadores e se apresentasse hoje na final do Mundial, talvez pudessem bater o pé e vender cara a derrota ao Bayern. Mas o River Plate foi eliminado nas ‘meias’ pelo Palmeiras (arbitragem à parte) e a realidade é outra. O Bayern vai jogar em ritmo de treino, como fez contra o Al-Ahly na semi-final e vai ganhar sem contestação.


A minha opinião pessoal sobre a prova, de forma crua: não me oponho à sua realização, obviamente. Mas oponho-me certamente aos seus futuros moldes, de uma competição semelhante ao Campeonato do Mundo de selecções, com 24 equipas. Porquê? Aumenta a competitividade, é certo, mas o desnível será notado com muito mais facilidade. Oito das equipas presentes serão europeias, decididas pela classificação da Champions League. E dessas oito, tenho a certeza que pelo menos seis estarão nos quartos de final edição sim, edição provavelmente. E é a partir dessa fase que entra a competitividade: com os duelos europeus, alguns dos quais repetidos da edição anterior da Champions League. E os representantes da CAF (África), da AFC (Ásia) e da OFC (Oceânia), com seis lugares entre os três, estarão confinados aos últimos lugares dos grupos. Inevitavelmente.

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